02/09/2008
Caroline Vicetini
Reportagem Local
DIA DE PAZ - Cidadania e protagonismo
Escola dedica um dia ao civismo, disciplina, respeito e solidariedade, incentivando alunos a praticarem a cultura da paz
Um dia de paz na escola, sem problemas de indisciplina. Utopia? Não para os alunos do Colégio Estadual Doutor Gabriel Carneiro Martins (Zona Oeste de Londrina), que fizeram da última quarta-feira (27 de agosto) um dia dedicado ao civismo, disciplina, respeito e solidariedade. Cartazes espalhados pelo pátio lembravam e conscientizavam para o importante dia: ''Hoje é o Dia da Paz''; ''Paz: o caminho de um novo amanhecer''; ''O respeito às leis assegura a paz de uma comunidade''; ''Estamos em paz. Não xingue.'' ''Vamos expandir a paz pelo mundo e acabar com brigas, intrigas e guerras''.
Um mural de notícias veiculadas pela FOLHA apresentava fatos positivos e negativos ligados ao ambiente escolar. Os alunos foram orientados a comparecer à aula com alguma peça de roupa ou acessório na cor branca, simbolizando a paz. Na hora do hino, estudantes perfilados e com comportamento exemplar, cantando sem acompanhamento. Em sala de aula, o trabalho com texto sobre a honestidade e a discussão de filmes que abordam a temática ''guerra e paz''. Com as turmas do período vespertino, um concurso de redação no qual as produções serão corrigidas pelos alunos das oitavas séries.
O projeto ''Dia da Paz - Tolerância Zero para a Indisciplina'' foi idealizado pela professora de História Marcia Justino de Carvalho. Preocupada com o excesso de ocorrências de indisciplina e a concorrência desleal com o tráfico de drogas, Marcia incentivou os alunos a se mobilizarem para a mudança. ''Decidimos junto às turmas da 8 série A, B, C, e D, que cada mês, na última quarta-feira, seria decretado o ''Dia da Paz'' na escola. Neste dia, uma comissão de alunos estará de plantão para atender e ajudar alguém que, porventura, apresente dificuldade para obedecer. O objetivo é poupar professores e equipe pedagógica na solução de conflitos'', explica.
Segundo a aluna Gabriella Ferrajam, 14 anos, da 8 A, responsável pelo primeiro ''Dia da Paz'', durante o mês uma equipe passou de sala em sala anunciando o projeto e conscientizando os alunos sobre a importância da disciplina e da boa convivência. ''Inicialmente, alguns colegas falaram que bagunçariam porque ninguém iria para a pedagogia; mas depois compreenderam a importância do projeto e se propuseram a colaborar'', afirma. O embasamento teórico foi dado com o trabalho de pesquisa ''Violência entre Jovens'', abordando os temas ''as gangues urbanas'', ''violência doméstica'', ''violência nos estádios'', ''violência nas festas'' e ''violência na escola''.
Alunos e professores não perceberam a mudança apenas no dia 27 (segundo a professora Marcia, apenas uma ocorrência foi facilmente solucionada). ''A bagunça diminuiu; os colegas estão mais comportados'', constata Lucas Liberatti, 14 anos, da 7 série. ''Não há mais lixo no chão. Falando de igual para igual a gente se entende'', acrescenta Gabriella Moreira, 13 anos, também da sétima. Segundo a professora de História Edméia Lima, o projeto é uma iniciativa que está fazendo a diferença. ''Percebi uma mudança de postura na hora do hino. Os alunos respeitaram o momento. É a possibilidade de promover a cultura da paz'', defende. Para o diretor Ney Mezzadri com o projeto os alunos aprendem na prática o que foi ensinado em sala de aula. ''O processo de aprendizagem se efetiva porque eles dão sentido ao que estão fazendo. Os estudantes podem colocar suas idéias em discussão buscando uma solução pacífica para os conflitos'', explica.
Motivadas com o resultado do projeto, as outras oitavas já preparam o seu ''Dia da Paz''. ''Planejamos envolver o bairro promovendo uma passeata pela paz. Também queremos conscientizar os alunos sobre o respeito à fila e ao professor, a necessidade de usar o uniforme e ser pontual'', pontua Laina Tardem, 14 anos, da 8 B. ''O respeito é uma das condições para a paz. Muitas vezes um colega está incomodado com a conversa paralela, mas, grita com o outro para parar a algazarra'', aponta Daniane da Silva Santos, 14 anos. ''A escola é a nossa segunda casa. Se temos paz no colégio será mais fácil conquistá-la fora'', resssalta Ivan Nunes Justino, da 8 C.
'Educação para paz precisa ser formalizada', defende Galhardi
Nos últimos anos a violência tornou-se um problema educacional. Por conta desta situação, é crescente a preocupação em investir na educação baseada na não-violência, objetivando formar consenso para a paz, enquanto uma construção coletiva. Segundo o presidente da ONG Londrina Pazeando, Luis Carlos Galhardi, o tema ainda é pouco popularizado no Brasil, mas em países desenvolvidos a educação para a paz integra o currículo escolar. ''O que percebemos são projetos pedagógicos pontuais. Faz-se necessário institucionalizar a educação para a paz, trabalhando-a transdisciplinarmente'', defende. Em Londrina, a ONG já promoveu seminários, conferências e cursos de educação para a paz para professores da rede pública e particular. Mais de 200 escolas já adotam livro voltado para o assunto atingindo 160 mil alunos dos níveis Fundamental e Médio.
Segundo Galhardi, projetos como ''Dia da Paz - Tolerância Zero para a Indisciplina'', iniciado no Colégio Estadual Doutor Gabriel Carneiro Martins, promovem a cidadania e o protagonismo dos alunos. ''Durante todo este tempo fomos educados para a cultura da violência, cultuando nas escolas heróis guerreiros e a solução não-pacífica dos conflitos. Por que as escolas não incluem em seus currículos o estudo da biografia de pacifistas como Ghandi, Martin Luther King? Está na hora de repensarmos esta sociedade violenta'', propõe.
De 21 a 28 de setembro a ONG Londrina Pazenado promove a 8 Semana Municipal da Paz de Londrina. Na programação constam exibição de filmes, entrega do 6º livro Londrina Pazeando a alunos, 5 Noite de Cultura de Paz, com os alunos das escolas da rede municipal, particulares e do estado, Fórum Estadual de Educação Para Paz, palestra com a monja budista Cohen e caminhadas com escolas. (C.V.)