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Fonte: Jornal de Londrina http://www.jornaldelondrina.com.br/cidades/conteudo.phtml?tl=1&id=1394915&tit=Marcas-da-degradacao

Terça-feira, 30 de julho de 2013 - Londrina: Cidades

Marcas da degradação

Espaços públicos, imóveis comerciais e residenciais têm sido alvo constante dos pichadores em Londrina

30/07/2013 | 00:01 Marcelo Frazão

Muros pichados passaram a ser um tema preocupante em Londrina. A visibilidade do problema em espaços públicos – como a Concha Acústica e o Zerão – além de muros de casas, comércios e escolas piora a paisagem urbana local e coloca uma interrogação nas autoridades sobre como tratar o tema.

A situação tornou-se tão evidente que, desde o começo do mês, o próprio prefeito Alexandre Kireeff, em sua página pessoal no Facebook, tem protestado contra pichadores que insistem em atingir a Concha Acústica, espaço histórico central da cidade. “Nós vamos pintar de novo, consumindo recursos, dinheiro da população, para preservar o patrimônio público”, afirmou. “Vamos pintar pela nona vez este ano”, lamentou Kireeff. “O conserto exige recursos econômicos e humanos que fazem falta em outros serviços públicos”, resumiu.

Prefeitura removeu as pichações no Anfiteatro do Zerão, mas em menos de um mês, os vândalos voltaram ao local

Pichadores “Pode pintar mil vezes” O estudante universitário Daniel Chaves, 21 anos, transita em grupos de movimentos urbanos, mas mantém-se longe das pichações. Prefere o slackline – atividade feita com uma corda elástica esticada, amarrada em dois pontos - onde tenta se equilibrar. Enquanto pratica no Zerão, conta que convive com muitos deles. “O pessoal geralmente faz por prestígio. Quem picha tenta deixar a sua tag [assinatura] cada vez mais alto em locais cada vez mais difíceis.” Daniel diz que pichadores são persistentes e gostam do enfrentamento. “Citaria a seguinte frase que já ouvi: pode pintar mil vezes que vão haver mil outras pichações.” Um skatista assume-se como pichador. Aos 18 anos, diz que pichar é uma posição “de atitude”, “contra o sistema” e “causada pela opressão”. Justifica a prática como protesto contra a atividade policial “que esculacha quem fica na rua”.

Dentro da administração, a ordem é não dar espaço, apagando pichações de forma imediata. Mas a velocidade dos pichadores tem sido muito maior que a capacidade do poder público de remediar a situação.

Poucos locais públicos escapam das tintas e da ousadia dos sprays. Um mês atrás, a concha do Anfiteatro do Zerão, por exemplo, foi inteiramente recuperada pela Prefeitura para uma esperada apresentação da Orquestra da Universidade Estadual de Londrina durante o Festival de Música.

A apresentação acabou cancelada em razão das chuvas, mas se o concerto tivesse acontecido, o cenário revelaria uma cruel disputa visual entre os músicos da orquestra e o emaranhado com centenas de pichações que voltaram a dominar o local, logo no dia seguinte à pintura.

“Não durou nada. Deixaram pintadinho e virou isso aí”, indigna-se Zita Totene, 64 anos, diariamente na área para uma caminhada de fim de tarde. “Muito difícil para Londrina conviver com um espaço bonito, mas ao mesmo tempo estragado assim”, concorda a amiga Cleusa Correa, 69 anos.

No centro da cidade, raros prédios públicos se salvam das marcas de pichadores. Mesmo as bibliotecas públicas Municipal e Infantil tornam-se alvo constante de assinaturas e mensagens ininteligíveis, que só parecem fazer sentido para o autor da “façanha”.

No calçadão da Avenida Paraná, por exemplo, cabines telefônicas tentam manter o estilo inglês em meio a riscos e mensagens feitos em tinta spray. Distante dali, muros de imóveis da Rua Humaitá também estão abarrotados de inscrições, assinaturas e frases de protesto.

Em meio à poluição visual e depredação do patrimônio público e privado, é possível distinguir, pelas assinaturas, grupos que se enfrentam na disputa ilegal pelo espaço. Em todos os locais, as assinaturas de pelo menos cinco grupos de pichadores aparecem com frequência – mas nunca ninguém foi identificado.

Vicente Rijo apoia grafite

O Colégio Estadual Vicente Rijo está em um dos cruzamentos mais conhecidos de Londrina, entre as avenidas Higienópolis e JK. O enorme muro branco é um convite aos pichadores. Resultado: gastos quase mensais de cerca de R$ 3 mil com tinta e mão de obra para apagar as marcas da tinta spray.

Dois meses atrás, a diretora Cleise Mari Horn recebeu integrantes do Movimento Londrina Pazeando, que propuseram pintar no muro imagens ligadas ao tema da paz. A conversa evoluiu e, com a UEL, o colégio começou oficinas de grafite com os estudantes. “Esperamos que os pichadores respeitem os grafiteiros”, diz a diretora. “É uma aposta”, afirma, com base na garantia de que, entre pichadores, há um “código de ética” que define como intocável uma área com arte em grafite.

À exceção de uma pichação interrompida na metade, o muro do Vicente Rijo tem permanecido íntegro – em destaque, apenas os desenhos com motivos ambientais feitos pelos alunos. Em 20 dias, tudo deve ficar pronto. “Para mim, pichação significa sujeira mesmo”, diz a diretora.

Guarda organiza força-tarefa

Após flagrar e apreender pichadores em vários locais da cidade neste ano, a Secretaria Municipal de Defesa Social promete, em breve, divulgar um plano antipichação, que inclui monitoramento por câmeras e formação de uma rede de apoio da comunidade, estimulada a denunciar.

“Formaremos uma força-tarefa entre PM, Polícia Civil, Guarda [Municipal] e moradores”, diz o secretário Rubens Guimarães, coordenador da Guarda Municipal. Após quase perder a batalha para os pichadores na Concha Acústica, o espaço foi “reconquistado”. “A câmera ligada à central monitorava apenas a parte externa da Concha. Agora, flagramos tudo o que acontece dentro de toda a praça”, assegura. O Zerão também deve ser monitorado por câmeras, mas não há prazo.

Sobre áreas privadas, o secretário sugere que os moradores não deem espaço aos pichadores e repintem rapidamente o local para inibir a prática. Guimarães incita grupos de pichadores a “retirar o capuz e aparecer” para reivindicar locais autorizados para o grafite, deixando a pichação de lado.