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Primeiro contato do movpaz feira em londrina

A paz na sala de aula

Com a pedagogia da paz, implantada em alguns municípios no País, já se nota redução da violência nas escolas

Paz também se ensina. Ensinar a paz nas salas de aula é o desafio proposto pela Organização Não-Governamental MovPaz (Movimento Internacional pela Paz e Não-Violência), criada por Clóvis Nunes em Feira de Santana (BA). Esta cidade e outras cinco Œ Cabrália (BA), Viçosa e Ponte Nova (MG), Vitória (ES) e Recife (PE) Œ implantaram a pedagogia pela paz nas escolas públicas. O estudo do tema é lei municipal nessas cidades.

A experiência tem quase três anos e alguns resultados já podem ser observados, segundo o presidente da ONG, Clóvis Nunes, que esteve em Londrina a convite das secretarias de Educação e Cultura e da ONG Semente da Paz, para falar sobre o trabalho.

Os números não são precisos, mas, segundo Nunes, nota-se redução no índice de repetência e de depredações das escolas, além de diminuição na criminalidade praticada por adolescentes. A inclusão do estudo da paz nas salas de aula é apenas uma, das 21 metas do projeto Paz pela Paz, criado pela MovPaz, que tem como objetivo substituir a médio e longo prazo a cultura da violência pela cultura da paz.

Hoje são quase 500 mil jovens, da alfabetização ao 3º colegial, que têm o tema da paz incluído no currículo pedagógico como conteúdo transversal. Isso implica na agregação de valores humanos nas disciplinas. Nunes explica, por exemplo, que os alunos aprendem tudo sobre as guerras e seus heróis assassinos (Duque de Caxias, Mem de Sá e outros). Mas os currículos nada trazem sobre os acordos de paz e os pacifistas da história.

Ele afirma que os jovens não conhecem a história de homens e mulheres como Luther King, Mahatma Gandhi, Chico Mendes, Dom Hélder, Madre Teresa de Calcutá. Como eles agiam, como pensavam. ``De Albert Einstein, os jovens sabem apenas que foi autor da teoria da relatividade. Não sabem que foi um grande pacifista, que lutou contra as bombas''.

O estudo da paz entra de forma subliminar nas disciplinas. ``Na aula de inglês, por exemplo. Tem que traduzir um texto, traduza um texto de Luther King e não uma música de rock'', exemplifica. A meta da ONG para iniciar o estudo da paz nas escolas é a realização de um concurso de construção de texto com o tema da paz.

A ONG passa uma bibliografia para os estudantes com 16 livros, seis vídeos e cinco CDs contendo histórias de grandes pacifistas, numa linguagem sociológica da paz e com dados sobre os custos da violência, a economia armamentista das grandes potências, o lixo bélico e outros.

Os vencedores são premiados com computador e passagem para Paris para conhecer a Unesco. Os 100 melhores textos serão transformados em livro didático. ``Os estudantes estudam o conteúdo da paz de alunos de outras regiões''. A implantação se dá em parceria com a Secretaria de Educação local, que recebe toda a orientação da ONG.

Espera-se que, ao final de 2005, 80% das escolas (públicas e particulares) de nove cidades tenham implantado o estudo da paz como conteúdo transversal das disciplinas no currículo pedagógico. Outra expectativa é alcançar outras escolas da Bahia e do Brasil.

Ensinar os educadores a ensinar a paz é outra meta que consolida a pedagogia pela paz. Ela será implantada pela primeira vez no próximo semestre em Feira de Santana, durante o seminário ``Ensinando a Ensinar a Paz''. A finalidade é preparar o educador para que o estudo da paz nas escolas não ocorra de maneira improvisada e superficial, ainda mais que se tornará lei municipal para as escolas.

Em julho, Clóvis Nunes irá ministrar curso de capacitação sobre o tema para professores das escolas públicas de Londrina.

Saiba porque a paz passa pelo viés econômico

  • A cada minuto, 300 pessoas são assassinadas; 600 sofrem um golpe de violência e a cada 40 minutos uma se suicida
  • Até 2015, 80 milhões de pessoas morrerão de fome no planeta
  • 1 milhão de crianças por ano vivem na prostituição
  • 68 focos ativos de guerra no planeta, sem chances de cessar nos próximos cincoanos
  • Para manter essas guerras se gasta por ano US$ 35 bilhões
  • 18 focos ativos de ações terroristas no planeta

Fonte: ONG MovPAZ


Não-violência

Neologismo Œ não deve ser confundido com contra-violência; é a não-obediência pacífica. É uma atitude pacifista que norteou o imaginário de Mahatma Gandhi. Você não reage, entretanto você não obedece. A ação é uma não-reação (não-concordo, não-obedeço, mas não reajo com violência).

Se fundamenta na brandura, na compaixão e na capacidade de matar no inimigo o desejo de matar. A não-violência é uma atitude corajosa.


ONG vai apresentar proposta ao MEC

O Movimento Internacional Pela Paz e Não-Violência deverá apresentar ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) a proposta para inclusão do ensino da paz nas escolas. Nas cidades onde o Movimento atua, isso já está se tornando realidade.

A coordenação central do Movimento se encarrega das orientações necessárias para estabelecer a parceria com as secretarias de Educação de cada município. Essa iniciativa deve ser oficializada através de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal, a fim de que esse estudo nas escolas não seja temporário e sim per manente.

A ONG MovPaz foi criada por Clóvis Nunes, em 1991, quando organizou a primeira ``Caminhada pela Paz'', com a participação de mil pessoas em Feira de Santana (BA). Hoje 200 mil pessoas participam da caminhada. Outros oito estados brasileiros, sendo 17 cidades, já aderiram à Caminhada e decretaram o Dia Municipal da Paz.

Entre as várias ações do movimento, há a pedagogia pela paz, a criação do Museu da Paz, a Casa da Paz e o projeto do desarmamento que já foi aprovado em primeira discussão no Congresso Nacional. ``A proposta é o governo comprar as armas dos cidadãos. O governo já percebeu que isto é mais barato do que combater a violência'', afirma Nunes.

Essas ações trabalham a paz em três âmbitos: social, ambiental e interno. Segundo Nunes, em Feira de Santana já é possível ver resultados do trabalho. "De cada 100 mil habitantes, entre 12 e 14 morriam assassinados. Hoje esse número caiu para dois.''

A proposta não é combater a violência, mas ter uma reação pacífica, que a ONG batizou de não-violência. Nunes explica que a paz hoje passa pelo viés econômico e é uma questão de sobrevivência do planeta.

Segundo ele, dados do Instituto de Estatísticas de Londres mostram que, se o Planeta ficasse 72 horas em paz, seriam economizados US$ 1 trilhão. "Hoje vivemos a cultura da violência e é preciso colocar em movimento uma cultura de paz''.