19/OUT/2005 Stella Meneghel
Jornal de Londrina - Referendo
Morte por armas apresenta redução
Resultado é observado desde o ano passado, quando entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento.
REFERENDO - Resultado é observado desde o ano passado, quando entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento
Morte por armas apresenta redução
Morte por armas apresenta redução
Levantamento da Secretaria Municipal de Saúde aponta que a média mensal de homicídios provocados por armas de fogo vem apresentando redução desde o ano passado. Em 2003, a média foi de 13,5 mortes por disparos por mês; em 2004, de 12,7; e neste ano (dados até agosto) está em 10,7. No ano passado, entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento.
Esses números mostram uma reversão na tendência de crescimento dos homicídios por arma de fogo que vinha se desenhando desde 2000, quando a média mensal de mortes foi de 3,9 (veja gráfico ao lado).
A proporção do uso de armas de fogo nos homicídios também apresentou a mesma evolução. Em 2000, dos 72 homicídios, 47 foram por armas de fogo, o que representa 65,3% do total. Em 2003, houve 184 homicídios, sendo 162 por armas de fogo (88% do total). Em 2004, o número de homicídios se manteve, mas houve redução no uso de armas – 83,2% ou 153 mortes. Neste ano, novamente, a tendência é de queda. Até agosto, foram registrados 108 homicídios, dos quais 86 por arma de fogo (79,6%).
Se a média mensal de homicídios (10,7) se mantiver, 2005 deve terminar com 128 mortes. Isso irá representar uma redução de 10% no número de homicídios em relação ao ano passado – 15 vítimas a menos.
Reflexo?
Para o secretário municipal de Saúde, Silvio Fernandes, não é possível afirmar que a redução seja exclusivamente reflexo do vigor do Estatuto do Desarmamento, que desde de 23 de dezembro de 2003 proíbe o cidadão comum de andar armado (porte) e determina punições mais rígidas, como tornar inafiançável o porte de armas ilegais.
“Acredito que houve um aperfeiçoamento da ação policial, com repressão maior ao tráfico, que gera muitas mortes. Mas sem dúvida é possível dizer que a redução de armas diminuiu a criminalidade e, consequentemente, as mortes. Principalmente, aquelas ligadas a conflitos pessoais, como brigas do tráfico, brigas entre familiares, vizinhos, no trânsito. Creio que a diminuição de armas pode ter pesado (para a redução das mortes por disparos)”, afirmou Fernandes. “Essa é a causa que mais gera anos perdidos”, completou o secretário.
Os homicídios do ano passado, entre o sexo masculino, “roubaram” 5.340 anos potenciais de vida – tempo em que as vítimas poderiam ter vivido de acordo com a idade média de vida do londrinense. Em segundo lugar, vêm os acidentes de trânsito, que tiraram dos londrinenses 2.837 anos potenciais de vida (quase metade dos anos perdidos por homicídio), seguido do infarto do miocárdio (1.025 anos).
Apesar da redução de mortes por arma de fogo, para o secretário homicídio, no Brasil, é uma epidemia. “Os índices mostram que o Brasil é campeão em mortes por armas de fogo e Londrina também enfrenta esse problema. Vivemos uma epidemia de grandes proporções e a população não se dá conta disso. Acredito que se as armas diminuírem, muitas mortes serão evitadas”, opinou Fernandes.
Ele reconhece, no entanto, que a proibição da venda de armas e munições não é a única forma de resolver a violência. “A violência está ligada a vários fatores, como concentração de renda, desemprego, educação e assistência social. Mas outro fator é a cultura da violência, que precisa ser combatida em todos os espaços”, argumentou.
Neste domingo, os eleitores terão de decidir se o comércio de armas de fogo e de munição deve ser proibido no Brasil. Se a maioria dos eleitores votar sim no referendo, o cidadão comum não poderá mais comprar esses artigos, mesmo aquele que já tenha o registro da Polícia Federal para ter uma arma em casa ou no trabalho (não poderá comprar munição nem outra arma). Se o resultado for não, a legislação permanece como está no Estatuto do Desarmamento.
Stella Meneghel
