Folha de Londrina, 13 de Dezembro de 2004
Jacira Werle Reportagem Local
Polícia Federal recolhe 74 armas
Dorico da Silva
Indenização varia entre R$ 100 e R$ 300, dependendo da arma. O sábado foi dedicado para a campanha do desarmamento em Londrina. Em cinco postos instalados em bairros da cidade, formam entregues 74 armas, segundo dados da Polícia Federal (PF). O delegado chefe da PF na cidade, Sandro Roberto Vianna dos Santos, avaliou como positivo o número de armas recolhidas. '' Durante a semana recebíamos na PF em média 50 armas, só no Dia D Desarmamento recebemos 74'', disse. Segundo ele, em Londrina saíram de circulação quase 2,3 mil armas desde o início da campanha em 15 de julho.
Santos explicou que a campanha acaba em 23 de dezembro, mas o governo federal já sinalizou para prorrogação por mais seis meses no prazo de entrega. Para cada armamento que sai de circulação as pessoas vão receber indenização que varia entre R$ 100 e R$ 300 de acordo com o tipo da arma. Quem ainda quiser participar da campanha pode deixar as armas na sede da PF, Rua Tietê, 1.450, Vila Nova. Todas as armas entregues serão destruídas pelo Exército.
Jornal de Londrina, 24 de Novembro de 2004
OPINIÃO
Bom-Dia
Se você acredita que ter uma arma em casa é garantia de segurança, imagine o que faria se seus filhos se matassem com a sua “proteção”?
Um garoto de 14 anos guarda um revólver em sua casa a pedido de um colega de escola. À tarde, enquanto seu irmão menor, de 12 anos, anda de bicicleta em frente à residência, ele pega o revólver e resolve brincar. Mira no irmão que está pedalando e aperta o gatilho. O menino cai da bicicleta com um tiro no meio da testa.
O outro que atirou, em sua inocência, viu o tambor da arma vazio; não imaginava que quando disparasse o mecanismo iria girar e colocar uma bala na agulha. Imagine agora, você que é pai, chegar em casa no final da tarde e encontrar uma cena dessas.
Essa situação, relatada ontem pelo Jornal de Londrina, ocorreu na última sexta-feira, no Jardim Franciscato (Zona Sul), um dos bairros mais pobres da Cidade, com altos índices de criminalidade, alcoolismo e desemprego. Mas o garoto que atirou e matou o irmão, não tinha envolvimento nenhum com o crime, como a Polícia já comprovou.
Com uma relação familiar estável, pais que trabalham honestamente, e moram numa casa própria, o que ele pensou fazer foi apenas um favor a um colega de escola. Mesmo assim, acabou sendo engolido pela engrenagem perversa da miséria que reina no local e acaba abreviando a vida de jovens e crianças levados precocemente à marginalidade.
O fato mostra o quanto Londrina – e o Brasil, é claro – necessita urgentemente de políticas de segurança e educação com alto poder de persuasão e mudança. O que não se planta hoje, será impossível colher amanhã.
A iniciativa da ONG Londrina Pazeando e as Polícias Federal e Civil, que criaram esta semana o Comitê Londrinense para o Desarmamento, é uma das raras oportunidades em que nós, cidadãos, que também vivemos acuados pelo medo da violência, podemos fazer algo de prático: entregar as armas que temos em nossas casas.
Em Londrina, a Polícia Federal já recolheu 1.872 armas desde 15 de julho, quando foi lançada a campanha do Governo Federal. A meta, até o próximo dia 23 de dezembro, é tirar das ruas mais 500 armas.
Se você é daqueles que acredita que ter uma arma em casa é garantia de segurança, imagine o que faria se seus filhos se matassem com a sua “proteção”? Nós podemos fazer muito mais por Londrina e, quando fizermos a nossa parte, teremos ainda mais autoridade para cobrar os responsáveis pela nossa segurança.
