FONTE: http://diariosp.com.br/noticia/detalhe/43401/Armas+de+brinquedo+estao+em+2%26ordm%3B+na+apreensao
dia a dia 04/02/2013 12:10
Armas de brinquedo estão em 2º na apreensão
A redução da circulação de armas de fogo faz com que os bandidos improvisem com imitações PLÍNIO DELPHINO
pliniod@diariosp.com.br
Reinaldo Marques/Diário SP
O recolhimento de armas de brinquedo nas mãos de criminosos é surpreendente
Enquanto o presidente Barack Obama tenta convencer o Congresso dos Estados Unidos de que é preciso regular a venda e a posse de armas no país, o Brasil tem reduzido sistematicamente a circulação de armamento de fogo nas mãos de civis. Em São Paulo, a Polícia Militar tem abordado mais suspeitos e, ano a ano, vem apreendendo esses objetos nas ruas do estado.
Em paralelo, o recolhimento de armas de brinquedo nas mãos de criminosos é surpreendente: representa 18% do que é tirado das ruas pela PM.
Em 2012, a Polícia Militar apreendeu 11.944 armas de fogo e 2.672 de brinquedo. Se somadas as apreensões, as imitações que parecem de verdade representariam o segundo modelo mais encontrado pela polícia nas mãos de suspeitos. Só perde para os revólveres, que chegam a 49% das armas retiradas de circulação.
O porta-voz da Polícia Militar, capitão Émerson Massera, explicou que, desde 2003, quando foi criado o Estatuto do Desarmamento, a circulação de armas nas mãos de civis em São Paulo diminui progressivamente. “Hoje, o número de apreensões é 50% menor do que há 10 anos porque há menos armas nas mãos de civis.”
Para Massera, o Estatuto do Desarmamento representou um grande avanço na área da segurança pública. A lei definiu critérios mais rigorosos para o registro, a posse, o porte e a comercialização de armas de fogo e munição.
“A atuação das polícias na retirada de armas, as campanhas do desarmamento e a maior dificuldade no acesso foram fatores significativos para impactar na redução dos homicídios”, explica o PM.
Projeto/ Um projeto polêmico do deputado André do Prado (PR), que proíbe a fabricação e a venda de armas de brinquedo, foi aprovado na Assembleia Legislativa no final de dezembro e aguarda sansão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
A justificativa é de que a medida servirá para afastar crianças e adolescentes de brinquedos que possam incitá-los à violência. Há muitas correntes contrárias a esse projeto.
O capitão Massera ressaltou que desde o final de 2011 tem notado maior circulação de armas de brinquedo muito semelhantes às reais nas mãos de suspeitos. “Essas apreensões são as que estão ligadas efetivamente à prática de um crime. O cidadão comum não saberia diferenciar uma arma de verdade de uma de mentira. Portanto, a orientação é nunca reagir.”
Brasil é o 7º maior mercado do mundo. Estados Unidos lideram
De acordo com a entidade internacional Small Arms Survey, existem no mundo hoje aproximadamente 875 milhões de armas e a maior parte, cerca de 650 milhões, em poder de civis. Desse total, a maioria está no mercado americano (270 milhões). O Brasil aparece em 7 lugar nesse ranking, com 14,8 milhões.
Segundo o coordenador de assuntos de segurança e justiça do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, o Brasil constituiu um marco legal para dificultar a circulação de armas.
“Enquanto isso, o presidente Barack Obama enfrenta muita dificuldade nos Estados Unidos para fazer valer suas propostas nesse sentido. Eles não têm esse respaldo”, observou o coordenador.
Segundo Bruno, regras rígidas para obter armas legalmente ajudaram a diminuir crimes. “Por exemplo: só pessoas com 25 anos ou mais podem adquirir uma arma. Sabe-se que o maior número de vítimas e autores de crimes com armas de fogo são jovens de até 24 anos”, disse. Segundo o instituto, de 2002 para 2012 o número de lojas de armas diminuiu de 2,4 mil para 1.311 em todo o Brasil.
Produtos nacionais na ilegalidade são a grande maioria
Em 2006, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico de Armas conseguiu que os fabricantes de armamento no Brasil rastreassem 10.549 armas apreendidas na ilegalidade. Conclusão: 68% foram vendidas pela indústria brasileira para o comércio legal e 18% para o Estado.
Das repassadas para o comércio, 74% foram para cidadãos e 25% para empresas de segurança privada (o Brasil contava com 4.264 empresas legalizadas e o triplo clandestinas).
O relatório concluiu que a maioria das armas usadas pelos criminosos veio de lojas legais, através de “cidadãos honestos” ou de empresas de segurança privada.
A investigação comprovou que a maior fonte de armas para a delinquência vem do comércio legal. Das 146.663 armas apreendidas no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, 83% eram de fabricação nacional.