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Curso de Educação para a Paz - Convite

Curso Aprender a Educar para a Paz - Instrumento para capacitação em educação para a paz

Veja tudo sobre o Curso de Educação para a Paz:

 

No Colégio Maxi

No Centro de Treinamento Thomasi Hotel


Apresentação do curso,  pelo seu autor  Marcelo Resende Guimarães.

APRENDER A EDUCAR PARA A PAZ: UM DESAFIO A SER ENFRENTADO
 

“Para combater a cultura da violência que se aprofunda em nossa sociedade, a geração futura merece uma educação radicalmente diferente – que ao invés de glorificar a guerra, eduque para a paz, para a não-violência e para a cooperação internacional” (Agenda de Haia para a Paz).

 A proposta de formação de educador [1]  para a paz que você tem a seguir nasceu da conjunção de uma experiência pessoal de mais de dez anos na capacitação de educadores para a paz e da experiência de uma organização não-governamental – EDUCADORES PARA A PAZ – que, a partir do Sul do Brasil, tem consagrado os seus quase cinco anos de existência a concretizar o seu nome e a formar, exatamente, educadores para a paz. [2]

A experiência de oficinas para formação de educadores para a paz começou em Santa Cruz do Sul, Brasil, onde, através da Rede Em Busca da Paz e em parceria com diversas instituições locais, foram realizados os primeiros ensaios. Depois, em 2001,em Porto Alegre, Brasil, através da Secretaria Municipal de Educação [3] , esta proposta foi refeita e desenvolvida na capacitação dos educadores da rede municipal. A partir de 2002, com a fundação da organização não-governamental Educadores para a Paz, esta proposta de formação por oficinas enriqueceu-se com a contribuição coletiva do grupo [4] e foi oferecida a centenas de educadores. Em 2005, pessoalmente, realizei um processo de avaliação de toda esta experiência de formação, a qual revisei e reorganizei totalmente, constituindo uma proposta verdadeiramente nova, apresento para os educadores e educadoras da América Latina, através do Conselho Latino-Americano de Igrejas.  

 

[1]  Não desconheço o sexismo da linguagem e as questões de gênero implicadas nesta relação, nem tampouco credito à gramática uma condição de neutralidade. Contudo, por questões de fluidez do texto opto por flexionar apenas no masculino os substantivos que implicam, ao mesmo tempo, gênero masculino e feminino.

[2]  Em vários momentos deste texto e no próprio desenvolvimento do curso, utilizarei trechos da Carta de Princípios da Rede de Educadores para a Paz (ver www.educapaz.org.br), aprovada  em Porto Alegre, aos 29 e 30 de abril de 2006, da qual fui o proponente e o redator.

[3]  Trabalhei na equipe do Programa de Prevenção à Violência no Meio Escolar junto com Sonia Passos e Beatriz Didonet Nery.

[4]  Trabalhei junto com Beatriz Didonet Nery, Daniela da Rosa, Leonete Cassol, Maria da Graça Souza Rodrigues, Regina Vargas, Raquel Pena Pinto, Richard Wangen, Sonia Maria Passos. Posteriormente a equipe foi ampliada com Amarildo Ferrari, Caty Griebler, Eveline Maria da Costa, Ivone Pereira Cardoso, Júlio César de Lima, Lúcio Jorge Hammes e Márcio Adriano Cardoso.

curso educação paz 1

Por que capacitar educadores para a paz?

Nos últimos anos, o debate sobre a paz alcançou amplitude democrática, sendo incluído em várias agendas públicas - como na educação, por exemplo -, provocando uma multiplicação de iniciativas, eventos e manifestações em seu favor. Expressão deste interesse global pela temática da cultura de paz foi a proclamação, por parte da Assembléia Geral das Nações Unidas, do Ano 2000 como Ano Internacional Por Uma Cultura De Paz e da Década 2001-2010, como a Década Internacional Para Uma Cultura De Paz E Não-Violência Para As Crianças Do Mundo.

Neste contexto, a educação para a paz aparece como um instrumento importante para a concretização de uma cultura de paz, emergindo na interlocução da comunidade internacional, não apenas como uma nova área de pesquisa ou um campo relevante, mas como expressividade da idéia de bem, onde se joga a própria questão do sentido da humanidade e da finalidade da educação. Tarefa mundial, exigência indiscutível, componente importante dos programas educativos, são alguns dos atributos referidos à educação para a paz, entendida como ocupando um lugar central na formação dos cidadãos de uma comunidade democrática. Com cerca de 80 anos, a educação para a paz apresenta um desenvolvimento considerável, qualificada como uma especial direção da investigação em pedagogia internacional, constituindo-se em uma verdadeira disciplina científica e suscitando experiências significativas, tanto na educação formal como na educação não-formal.

Embora a educação para a paz constitua-se num conceito abrangente, abrigando as mais diversas experiências, sob os mais diversos títulos – educação para a paz, investigação para a paz, educação mundial, educação para a tolerância, educação para a convivência, educação para a sobrevivência, educação para a responsabilidade global, educação planetária, educação para o desarmamento, educação para a não-violência, educação para a compreensão, cooperação e a paz internacional –, podemos, sob estas diversas denominações, constatar um núcleo comum de preocupações, tais como:

  1.  
  2. - criar referenciais não-violentos,
  3. - fortalecer conexões comunitárias e renovar a esperança;
  4. - formar consensos para a paz;
  5. - capacitar pessoas para mudanças pela paz;
  6. - promover a justiça e o fim das desigualdades sociais;
  7. - oportunizar vivências plurais, para além dos preconceitos e estereótipos;
  8. - instrumentalizar a resolução não-violenta de conflitos;
  9. - ajudar a lidar com a agressividade, canalizando-a construtivamente;
  10. - desenvolver uma crítica à cultura de violência.


Em 1999, ativistas pela paz e não-violência, reunidos em Haia, Holanda, constataram que seus esforços só teriam sentido caso assegurassem às futuras gerações uma educação radicalmente diferente daquela oferecida: uma educação que ao invés de glorificar a guerra, contribuísse para a paz, os direitos humanos e a compreensão internacional. Lançaram então a CAMPANHA GLOBAL DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ, na firme convicção de que não haverá paz no mundo sem educação para a paz, assumindo um duplo objetivo de criar reconhecimento público e suporte político para a introdução da Educação pela Paz em todas as esferas da educação, incluindo a educação não formal, e de promover a formação de educadores para que possam implementar a educação para a paz.

Este movimento tem provocado uma nova demanda educacional. São muitos educadores e escolas que têm procurado inserir a temática da paz em suas práticas e currículos escolares e que buscam por pessoas qualificadas para fazê-lo. Os currículos de formação de professores, tanto na pedagogia como nas licenciaturas, ainda não contemplam esta área, deixando os novos educadores sem uma reflexão aprofundada, seja sobre os desafios da violência, seja sobre os desafios da educação para a paz. Muitos educadores desejariam contribuir e desenvolver práticas neste sentido, mas vêem-se desprovidos dos referenciais teóricos e metodológicos da educação para a paz.

Em um contexto maior de sociedade, sente-se a demanda, especialmente na América Latina, daquilo que se chama uma “massa crítica” em educação e cultura de paz, capaz de movimentar-se e fazer movimentar-se neste referencial, contribuindo para a implementação de políticas públicas em cultura de paz e para a superação de todas as violências. Estes quadros especializados seriam portadores dos elementos necessários para constituir grupos e espaços capazes de influenciar o todo da sociedade para uma mobilização em torno das propostas de cultura de paz.

Tanto o setor público como a sociedade civil sente a carência de uma reflexão teórica qualificada e uma intervenção prática adotada. Também o crescimento da demanda social da parte das empresas, seja no seu próprio espaço, seja em áreas de sua atuação, na medida em que enfrentam situações de conflito e violência, apontam para uma superação desses obstáculos. A própria conflitividade da sociedade está exigindo pessoal especializado na resolução não-violenta de conflitos, na capacitação de pessoas para mudanças em prol da paz e na implementação de instrumentais de cultura de paz.

Multiplicar o número de educadores comprometidos com a educação para a paz, para multiplicar espaços de formação das novas gerações na linha da não-violência, revela-se como uma alternativa para a busca de solução para o complexo problema da violência social. Não basta estigmatizar a violência, é preciso potencializar os esforços de paz e de mudança presentes nas pessoas.

 

Os objetivos deste curso

O presente curso de educação para paz visa, basicamente, três objetivos principais: formar multiplicadores na área de educação para a paz, organizar núcleos de educadores para a paz e preparar a implantação de círculos de cultura de paz nos diversos espaços educativos, formal e não-formal.

 
a) Formar multiplicadores na área de educação para a paz.

   A educação para a paz se concretiza especialmente através de pessoas capacitadas para tal, que são seus construtores e responsáveis diretos. Entende-se como educador, não apenas o professor, mas todas as pessoas que exercem uma atividade pedagógica intencional e organizada. Na realidade em que vivemos, de conflitos e violência, a formação de educadores para a paz é uma contribuição para o patrimônio ético das comunidades onde vivemos, assegurando multiplicadores da cultura e educação para a paz. Um educador para a paz é aquele que: [1]

i) age metodologicamente numa unidade meios/fins – não existem caminhos para a paz, a paz é o caminho -, privilegiando o vivido sobre o enunciado;

ii) anima/organiza/incentiva círculos de cultura de paz, compreendidos como o instrumento principal de promover uma cultura de paz através da criação de núcleos estáveis em escolas e outras instituições;

iii) insere-se no grande movimento pela paz, participando ativamente de uma ou mais de suas áreas de atuação: cultura de paz, direitos humanos, resolução de conflitos, desarmamento e segurança humana.     

 

b) Organizar núcleos de educadores para a paz.

   Os núcleos apresentam-se como comunidades de revisão da prática, formação e ação. Pela revisão da prática, os núcleos aprofundam as vivências, experiências e práxis desenvolvidas individualmente e comunitariamente, confrontando-as com os referenciais da educação para a paz e com as exigências sociais do contexto. Pela formação, os núcleos atualizam seus referenciais teóricos e metodológicos. Pela ação, os núcleos contribuem para a transformação da cultura de violência em cultura de paz.

 

c) Preparar a implantação de círculos de cultura de paz nos diversos espaços educativos, formal e não-formal. [2]

   Encontramos em Paulo Freire (1921-1997) a noção dos círculos de cultura, recriando-os como círculos de cultura de paz. Os círculos de cultura encontram sua referência básica no diálogo, entendido como um elemento essencial no processo educativo, uma vez que responde à exigência radical das pessoas que não podem se construir fora da comunicação, uma vez que são comunicação. Os círculos de cultura podem contribuir num processo de construção de uma cultura de paz, por seu acento participativo, dialógico e democrático, fornecendo esta inspiração de reunir pessoas - a idéia do círculo - em torno da preocupação pela paz, como ícone da tarefa que a humanidade necessita realizar. Os círculos de cultura de paz apresentam-se, assim, como uma possibilidade de estruturar a cultura de paz em muitos ambientes, articulando a comunidade como um todo, ou mobilizando segmentos específicos como grupos organizados, a partir de três dimensões fundamentais: comunidades de convivência e tolerância; espaços de debate e construção de consenso; centros promotores de ações e programas para a transformação.

i) Comunidades de convivência e tolerância: o tratamento das relações interpessoais ocupa um lugar de destaque na constituição de culturas de paz, apresentando-se como um dos seus pilares. De um lado, trata-se de um objetivo com valor em si mesmo: desenvolver a possibilidade de convivência. Por outro, é um meio ou instrumento para se conseguir uma convivência harmônica. Se não aprendermos a compreender o outro, a estabelecer com ele relações de solidariedade e parceria, não poderemos realizar as tarefas essenciais da humanidade, nem no que tem de menor, nem no que tem de maior. Para além das cargas intimistas e individualistas que se associaram à paz, trata-se de uma noção essencialmente intersubjetiva, que diz respeito ao modo como estabelecemos – ou deixamos de estabelecer – as relações com os outros humanos. Sendo mais do que a soma de indivíduos isolados em paz, a cultura de paz se estabelece precisamente na interação e no jogo entre os sujeitos. Nestas comunidades pacifistas, aprendemos algumas experiências fundamentais, como a experiência da vivência da pluralidade e da tolerância, superando os preconceitos e estereótipos, como os de gênero, classe e raça; a experiência de aprender a lidar com nossa agressividade, de forma que ela se torne uma energia de sociabilidade; e a experiência de aprender a resolver os conflitos de forma não-violenta.

ii) Espaços de debate e de consenso: sendo o conflito constitutivo da existência humana, a linguagem torna-se, por excelência, o lugar de operar a paz. Nela, a cultura de paz encontra um espaço propício para se desenvolver e fora deste âmbito argumentativo não poderá avançar. Trata-se de estruturar um amplo e aberto processo democrático, reflexivo e crítico. Este espaço argumentativo assume uma dupla dimensão. Por um lado, é preciso criticar a cultura de violência, na busca do estabelecimento de um consenso sobre como a violência é produzida e expressa pelos diversos agentes da sociedade, construindo um sistema de vigilância e de controle a estes mecanismos. Por outro, faz-se necessário projetar alternativas e possibilidades, concentrando-se no detalhamento e caracterização da agenda e do projeto da paz, como um exercício da imaginação utópica, permitindo um livre olhar sobre a violência e a guerra, não mais como a última palavra sobre a realidade, uma espécie de sentença a qual todos estão condenados. É necessário estimular as pessoas e grupos a defender este projeto, a dar à paz contornos mais definidos.

iii) Centros promotores de ação para a paz: A paz não é tanto algo acabado ou um objeto do qual detemos a posse – uma espécie de mercadoria -, mas um acontecimento e um processo no qual nos engajamos, participamos e construímos, exigindo, portanto, uma ação planejada, organizada, refletida e articulada com organizações que atuam pela causa da paz. Esta ação deve incidir tanto nos macro processos da sociedade, como nos micro processos sociais, de forma a incluir o inteiro corpo social, político e econômico numa ampla visão de paz. Podemos compará-lo com uma construção onde o arranjo do edifício favorece algumas interações e torna outras difíceis ou impossíveis. Uma estrutura para a paz visa favorecer os valores da paz, tanto aqueles que incrementam a paz negativa (ausência de violência direta) como aqueles que desenvolvem a paz positiva (justiça social). Assim, a cultura de paz é vista como um processo em ação e um grande movimento em curso, muito mais do que uma meta a ser alcançada. É um movimento de libertação protagonizado por mulheres, minorias étnicas, grupos que sofreram violações de direitos humanos, classe trabalhadora e pobres de todo mundo, que tende a envolver mais pessoas, confrontando as estruturas de violência com as estruturas de paz.

 

O referencial teórico

A educação para a paz, mais do que um caminho unívoco, é um conjunto mesmo de caminhos plurais, a partir de diversas referências. Este programa de formação de educadores para a paz guia-se especialmente pelas propostas da Campanha Global de Educação para a Paz. [3]  Entre os pressupostos pedagógicos sobre os quais se fundamenta este programa de formação de educadores para a paz, incluem-se as seguintes concepções [4]:

 

a) A educação para a paz como um construto cultural e pedagógico. A paz, além de raízes sociais, econômicas e políticas, possui um enquadramento cultural, dizendo respeito às expressões produzidas e criadas pela humanidade e, portanto, ligada ao ato de aprender, comunicar e educar. A paz não é um estado dado, mas algo a ser instaurado e construído por nós, da qual não somos clientes ou beneficiários, mas os sujeitos e co-criadores. A educação possui uma contribuição importante e significativa nos processos de construção de culturas de paz e não-violência. Junto com a Campanha Global, reafirmamos que “não haverá paz sem educação para a paz”.

 

b) A educação para a paz a partir do referencial da não-violência. As soluções ao problema da violência terão alcance muito reduzido enquanto permanecerem no campo restrito da resposta à violência. Faz-se necessário, para se conseguir uma resposta eficaz, criar pólos positivos de não-violência.

 

c) A educação para a paz como um elemento de ressignificação das práticas educativas tanto da escola como da sociedade. A educação para a paz, mais do que uma disciplina específica, apresenta-se como eixo pedagógico a partir do qual são redesenhadas as práticas educativas – concepções de tempo, concepções de espaço, habilidades, formas de tomada de decisões, linguagem e narrativas, elementos lúdicos – e as práticas societais – aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos, etc.

 

d) A educação para a paz como fundada no primado do vivido sobre o enunciado. Trata-se de ultrapassar a simples educação sobre a paz, estruturando uma verdadeira educação para a paz, onde as vivências estabelecidas constituem-se no próprio conteúdo. Desta forma, a questão metodológica torna-se central, uma vez que se baseia na unicidade entre fins e meios, os meios como embriões e sementes dos fins.    

 

e) A educação para a paz a partir do referencial sociocrítico. Mais que um refúgio metafísico, a educação para paz assume a tarefa de desvelar os germes culturais do desentendimento, dos sentimentos e das intenções sociais contrários aos valores mais indispensáveis da experiência humana. Como afirmou Paulo Freire, ao receber o Prêmio de Educação para a Paz, da UNESCO, em 1986: “A paz se cria, se constrói, na e pela superação das realidades sociais perversas. A paz se cria, se constrói, na construção incessante da justiça social. Por isso, não creio em nenhum esforço chamado de educação para a paz que, em lugar de desvelar o mundo das injustiças, o torna opaco e tenta miopisar suas vítimas”. Mais do que uma realidade concebida de forma idealista, a paz se apresenta, não como oposta ao conflito, à agressividade, à indignação, ao uso da força e à luta, mas justamente como uma forma de resolver os conflitos, de importar a energia humana e de avançar em direção a seus objetivos sem violência.

 

f) A educação para a paz como espaço de construção coletiva. Como construção, a paz deixa de ser um atributo apenas individual, para assumir uma compreensão mais coletiva e comunitária. A educação para a paz apresenta-se como um espaço onde as pessoas firmam-se como pacifistas, inserindo-as no movimento social para a paz e fazendo repercutir para o seu cotidiano aquilo que é a busca das pessoas comprometidas com a paz no mundo.

 

g) A educação para a paz como espaço de debate. No conflito interpretativo que se estabelece na sociedade atual, a linguagem torna-se, por excelência, o caminho para a paz, fazendo da educação para a paz um espaço por excelência do debate, diálogo e negociação para que a humanidade opere um consenso em torno da paz. Se, como afirmou Kant, “a paz não é natural e deve ser instituída”, o exercício da razão e das dimensões comunicativa e argumentativa assume um significado especial.

 

h) A educação para a paz como exercício de ação. A educação para a paz está voltada, visceralmente, para a ação, entendida em sua dimensão pública e política, tornando-se, fundamentalmente, uma experiência de descoberta e articulação com o movimento pacifista e de suas frentes, como a luta contra o armamentismo, o movimento de objeção de consciência e de desobediência civil, o esforço de solidariedade para fim dos conflitos, os trabalhos de educação para a paz e as ações em defesa da vida, cidadania e dos direitos humanos.

 

Metodologia da formação

O processo de formação é desenvolvido em estreita união com as propostas da Campanha Global de Educação para a Paz, com atenção para elementos como:

a) a participação e a construção do conhecimento (a educação para a paz envolve educadores para solidariedade, justiça, desarmamento, respeito às culturas e alternativas à guerra e à cultura de violência, o que não pode ser atingido por simples transferência de conhecimento);

b) atenção à metodologia;

c) trans e interdisciplinaridade e suporte científico, com profundidade conceitual, superando lugares comuns;

d) ênfase no comunitário e nos processos relacionais;

e) abertura a processos de revisão de práticas e implementação de novas;

f) encaminhamento para a ação e organização de projetos de educação para a paz, especialmente através da constituição dos círculos de cultura de paz.

Trata-se, basicamente, de oportunizar uma vivência em educação para a paz. A educação para a paz não é um processo apenas intelectual ou que se estrutura numa disciplina ou numa determinada atividade. Não basta falar de paz para constituir a educação para a paz porque o que ela tem a oferecer é exatamente a possibilidade de uma vivência e experiência de uma comunidade onde a paz articula-se como a referência fundamental. A filosofia hermenêutica, a partir de autores como Hans-Georg Gadamer (1900-2002), deu ao conceito de vivência uma dimensão de estabilidade, para além do episódico ou da simples sensação ou percepção: algo se transforma em vivência na medida em que não somente foi vivenciado, mas que o seu ser-vivenciado teve uma ênfase especial, que lhe empresta um significado duradouro. A vivência, em sua determinação hermenêutica, compreende algo inesquecível e insubstituível que, exatamente por isso, é capaz de se transformar em uma fonte inesgotável de produção de sentidos.

A metodologia a ser utilizada na capacitação dos educadores será em forma de oficinas, uma vez que elas se constituem em espaços de reflexão, criação e construção do conhecimento, que reiteram a consagrada expressão pedagógica do “aprender fazendo”, onde se evidencia a importância da ação no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

 
A formação de educadores para a paz é realizada, comumente através de oficinas, com o objetivo de que a fundamentação do tema possa ser discutida e estudada, oportunizando a qualificação, tanto prática como teórica, de educandos e educadores na luta pela paz.

Cada oficina, a seguir desenvolvida, compõe-se dos seguintes passos metodológicos:

a) integração, a fim de criar uma comunidade de trabalho e convivência

b) sensibilização, deseja despertar para a temática a ser trabalhada;

c) aprofundamento da temática, com o objetivo de descobrir todas as nuances da temática;

d) síntese, como construção grupal do conhecimento sobre a temática, sistematizando o seu saber sobre o tema trabalhado;

e) reconstrução da prática, como aplicação do conhecimento adquirido na busca da mudança social, como espaço dos participantes pensarem e debaterem seus compromissos com a temática estudada;

f) avaliação, como exercício de participação, oportunizando momento dos participantes expressarem seus sentimentos e opiniões, não apenas sobre o modo como a oficina foi desenvolvida, mas, sobretudo sobre o sentido e o significado dos procedimentos em suas vidas;

g) encerramento e confraternização, como celebração da vivência, ao mesmo tempo, alegre e profunda, como possibilidade do grupo dizer os compromissos assumidos, expressar as descobertas e as inquietudes, cantar, através de uma música pertinente, a temática estudada e as perspectivas vislumbradas, possibilitando que a oficina seja integrada pelas pessoas no seu itinerário e percurso pessoal como um momento realmente significativo.

 

Plano global

O presente curso desenvolve-se em 13 oficinas, abrangendo o mínimo de 52 horas/aulas (4 horas/aula para cada oficina), desenvolvido em três módulos, assim organizados:

 

Módulo 1: Conceitual

Objetiva oportunizar familiaridade e profundidade em relação aos conceitos básicos envolvidos numa prática de educação para a paz, tais como paz, não-violência e violência.
Oficina 1: Nossa identidade mais profunda, educadores para a paz!

Oficina 2: Paz, caminho e meta.

Oficina 3: Não-violência, a referência fundamental.

Oficina 4: Conversando sobre violências.

 

            Módulo 2: Temático

Visa possibilitar a apropriação dos temas básicos envolvidos na educação para a paz, tal como a Campanha Global de Educação para a Paz entende, isto é: cultura de paz, direitos humanos, resolução de conflitos e desarmamento.

Oficina 5: Compreendendo as raízes da guerra e implementando uma cultura de paz.

Oficina 6: Promovendo direitos humanos.

Oficina 7: Instrumentalizando a resolução não-violenta de conflitos.

Oficina 8: Desarmando os povos, promovendo a segurança humana.

 

            Módulo 3: Metodológico

Pretende contribuir para a apropriação do referencial metodológico em educação para a paz, especialmente a proposta dos círculos de cultura de paz.

Oficina 9: Multiplicando círculos de cultura de paz.

Oficina 10: Formando comunidades pacifistas.

Oficina 11: Aprendendo a dizer a palavra da paz.

Oficina 12: Organizando a ação para a paz.

Oficina 13: Criando núcleos de educadores para a paz.

 

Recomendações gerais

Este curso foi pensado de maneira que um pequeno grupo, de posse dos principais elementos teóricos e metodológicos da educação para a paz, tenha a possibilidade de multiplicá-lo e reproduzi-lo nos mais diversos ambientes.

Para uma boa realização deste curso, recomendam-se os seguintes elementos e cuidados:

a) realizar o curso com um grupo em número suficiente a facilitar as interações, partilhas e descobertas mútuas, próprias da dinâmica de oficinas. Um número superior a 35 educadores pode dificultar as dinâmicas aqui sugeridas: o ideal é cerca de 20 a25 educadores;

b) ter para cada oficina, onde for conveniente, uma dupla de facilitadores, os quais, como o nome expressa, tem a função de dinamizar a construção coletiva do saber;

c) planejar, antecipadamente, para cada oficina, a distribuição do tempo de acordo com o tamanho do grupo. Por questões de organização de tempo, os trabalhos em pequenos grupos do quarto momento (síntese) e do quinto momento (reconstrução da prática), podem ser feitos juntos, bem como o plenário subseqüente;

d) em várias oficinas há diversos materiais que não estão ligados diretamente à dinâmica do trabalho, mas que foram anexados como material de consulta ou de aprofundamento sobre a temática estudada.

e) Trabalhar na forma de oficinas, isto é, construção mútua e partilha de saberes, torna-se importante que as cadeiras sejam dispostas em círculo, a fim de favorecer estas interações;

f) atentar bastante para o ambiente: bandeiras da paz, cartazes relacionados com a temática, etc., colaborando na criação de um clima propício;

g) sugerir que cada participante tenha o seu diário onde registre as descobertas realizadas a cada oficina;

h) ter um mural onde os participantes possam escrever recados, colocar recortes, etc. poderá ajudar nas trocas e intercâmbios;

i) prever para cada oficina o material necessário.  

 

[1]  Cf. Carta de Princípios da Rede de Educadores para a Paz (§ 47-49).

[2]  Utilizo aqui trechos da Carta de Princípios da Rede de Educadores para a Paz (§ 32-35).

[3]  Veja especialmente neste sentido:

REARDON, Betty; CABEZUDO, Alícia. Rationales for and approaches to peace education: learnig to abolish war, teaching toward a culture of peace. New York: Hague Appeal for Peace, 2002-a.

______. Sample learning units: learnig to abolish war, teaching toward a culture of peace. New York: Hague Appeal for Peace, 2002-b.

______. Sustaining the global campaign for peace education: learnig to abolish war, teaching toward a culture of peace. New York: Hague Appeal for Peace, 2002-c.

[4]  Estes elementos redigi para o projeto do Curso de Especialização em Educação para a Paz, promovido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil, em 2005, e depois os apresentei para a Carta de Princípios da Rede de Educadores para a Paz (§ 19-30).


EM LONDRINA !
 

Módulo 1: Conceitual

Objetiva oportunizar familiaridade e profundidade em relação aos conceitos básicos envolvidos numa prática de educação para a paz, tais como paz, não-violência e violência.

Ø       Oficina Betinho (01)  :  Nossa identidade mais profunda, educadores para a paz!

Ø       Oficina Mahatma Gandhi (02):  Paz, caminho e meta.

Ø       Oficina Martin L. King (03):  Não-violência, a referência fundamental.

Ø       Oficina Chico Xavier (04): Conversando sobre violências.

Módulo 2: Temático

Visa possibilitar a apropriação dos temas básicos envolvidos na educação para a paz, tal como a Campanha Global de Educação para a Paz entende, isto é: cultura de paz, direitos humanos, resolução de conflitos e desarmamento.

Ø       Oficina Madre Tereza (05): Compreendendo as raízes da guerra e implementando uma cultura de paz.

Ø      Oficina John Lenon (06): Promovendo direitos humanos.

Ø       Oficina Albert Einstein (07): Instrumentalizando a resolução não-violenta de conflitos.

Ø       Oficina Chico Mendes (08): Desarmando os povos, promovendo a segurança humana.


       Módulo 3: Metodológico

 Pretende contribuir para a apropriação do referencial metodológico em educação para a paz, especialmente a proposta dos círculos de cultura de paz.

Ø       Oficina Francisco de Assis (09): Multiplicando círculos de cultura de paz.

Ø       Oficina Mãe Menininha Gantois (10): Formando comunidades pacifistas.

Ø       Oficina Dalai Lama (11): Aprendendo a dizer a palavra da paz.

Ø       Oficina Jesus Cristo (12): Organizando a ação para a paz.

Ø       Oficina Eupaziano (13): Criando núcleos de educadores para a paz.